

Foi tirada no celular durante uma rara viagem a uma praia ao norte de Salvador. Eulina–ou Lina, como as suas amigas a chamam–me mandou uma foto recente da família. É importante que essas histórias sobre o que acontece depois da epidemia, contadas pelas famílias afetadas, sejam compartilhadas para que elas não “caiam no esquecimento.”Īlguns meses depois, troquei mensagens de WhatsApp com outra mãe da Abraço. É especialmente importante continuar falando sobre os muitos e variados desafios que as famílias agora enfrentam, criando crianças com deficiências múltiplas e com prognósticos nebulosos. É por isso que, para muitas dessas famílias, precisamos continuar falando sobre o Zika, mesmo já passado seu status de “assunto em voga” no pico da epidemia. Mas assim como começou, a curiosidade também rapidamente se dissipou.Ī atenção nos primeiros dias da epidemia não foi bem-vinda e foi vivenciada como invasiva por muitas das famílias atingidas apesar disso, a visibilidade mediática também é uma forma de assegurar que elas, assim como as milhares de outras famílias afetadas pelo Zika, não sejam esquecidas e jogadas para o lado. As mídias projetaram imagens de destituição e desespero, enquanto cientistas buscaram compreender o vírus que tinha causado tanto dano a tantas vidas. Jornalistas e pesquisadores de todo canto do mundo aterrissaram no Nordeste brasileiro em busca de respostas a perguntas, e em busca de histórias. No início da epidemia, as mães brasileiras, já desnorteadas pelas circunstâncias inesperadas dos nascimentos dos seus filhos, foram de repente jogadas para o centro dos holofotes. Já nessa altura, a mídia tinha se afastado do Zika para cobrir a turbulência política no país. “Não podemos nos deixar cair no esquecimento.”Įra meados de 2017, depois da Organização Mundial de Saúde já ter oficialmente declarado que Zika não era mais uma emergência de saúde pública de porte internacional. “Estão esquecendo da gente, aos poucos,” escreveu. Fazia parte de um esforço, ela disse, de manter a atenção do público focada nos desafios que as famílias agora enfrentavam. Gleise estava escrevendo para me contar de uma página no Facebook que tinha lançado havia pouco tempo, onde postava itens relacionadas ao vírus Zika e seus efeitos em crianças como o seu filho. Ela era uma das mães associadas a uma ONG local, Abraço a Microcefalia, e mãe de um filho pequeno com a Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). Contra o Esquecimento: Contando Histórias após o Zikaĭois anos atrás, em um aeroporto, enquanto esperava uma conexão, recebi uma mensagem de WhatsApp de uma mulher no Brasil que conheci através da minha pesquisa de campo e trabalho voluntário em Salvador, capital do estado da Bahia.
